quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Peixes

Qual rio com poucos peixes,
Sou eu com os meus caros.
São poucos por questão
De adaptação, combinação.

Nem todo peixe vive no rio,
Nem todo peixe vive no mar.
Nem todo peixe consegue sobreviver
Aos alagamentos ou às secas;
Nem todo peixe ama tanto sua morada
A ponto de preferir resistir nela
A abandoná-la pelo oceano.

Uns se foram, outros, talvez,
Ainda virão.
E o vai-e-vem pode ser eterno.
O rio só deve se preocupar
Com os peixes que escolheram
Suas águas para nadar.

Preencho uma mão com
Os peixes que me são fieis,
E banhá-los é minha única preocupação.
Pois esses são os essenciais.

Não me importo se são poucos.
Pois de nada adianta
Rio farto de peixe
Se à primeira estiagem
Eles fogem para o mar.


Mariana Rosell

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A alma e a dança

É a minha alma que está ali, no palco a dançar, expressando-se por meio do meu instrumento carnal. Ela, que se manifesta por mim, salta e valsa sob a luz dos holofotes, sob os olhos atentos da plateia, sujeita a todo tipo de crítica: elogio ou maldizer.
Exposta em seu íntimo, faz de si o melhor para agradar ao espectador. Talvez nem saiba que mais bem faz a mim, que me curo de qualquer dor sempre que me empresto ao seu ofício.
A música me penetra, movimentando inconscientemente tudo o que me compõe, encantando cada olhar apreciador, suavizando cada ouvido interessado. Sonorizada pelo tom mais doce, que é todo tom, a minha alma dedica-se sempre mais ao movimento, realizando cada simples piscar de olhos com a mais pura dedicação.
Entrega-se inteira, me preenche por completo e expõe todo o sentimento, sem ter consciência da energia floreada, tudo o que me faz ser quem sou: minha dança à flor da pele.


Mariana Rosell

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Das flores e do povo

Brotam novas a cada dia,
Ao amanhecer se entregam
Ao mundo, as flores de toda
A vida.

Desperta cansado todo dia
O povo humilde que se entrega
Ao poder de todos os senhores,
Os mandantes.

E elas crescem e desenvolvem
As cores; e as flores
Fazem da cidade algo
Um pouco mais colorido.

E ele vai comprimido
Pelos seus pares, pelos trilhos
E trajetórias semelhantes,
Massacrantes.

Perfumam, embelezam, sorriem,
Fazem sorrir, cheirar e amar.
À noite repousam sua beleza
Para no dia seguinte brotar.

Caminha, corre, sorri;
É feito cochilar pelo desgaste.
À noite repousa seu corpo cansado
Para no dia seguinte despertar.

E assim se dá a rotina
Semelhante ou dispare,
Porque das flores e do povo
Só difere o teu olhar.


Mariana Rosell