quarta-feira, 31 de março de 2010

A dor (No fundo dos olhos dele)

Ele veio como quem não sabia o que dizer, mas na verdade ele não sabia como dizer. Tocou em meus braços, segurou minha mão e acariciou meu rosto com todo amor que sentia por mim. Senti que ele queria me falar algo, mas não achava as palavras. No fundo dos olhos mais lindos que eu já vi, havia uma dor, muita dor.
Não suportando me olhar profundamente, ele se virou de lado e parou durante instantes. Ao fim de sua pausa, que para mim pareceu eterna, ele disse palavras desconexas das quais não pude extrair nenhum significado. A única coisa que conseguia observar era a dor no fundo dos olhos dele.
Eu queria ajudá-lo, penetrar na mente dele para poupá-lo do sofrimento de ter que pronunciar aquelas palavras que insistiam em não sair. Então me esforcei para decifrar os códigos da angústia que habitava e intensificava a dor no fundo dos olhos dele.
Percebia que algo o estava incomodando muito. De repente, entendi; no gesto simples e no lamento da expressão, pude compreender que aquele era o adeus. Então só conseguia ver a dor no fundo dos olhos dele.
Ao perceber que eu compreendera seus sinais, pareceu respirar aliviado por se ver livre do fardo de ter que me dizer adeus. Ele então me olhou da maneira mais profunda; a dor ainda estava no fundo dos olhos dele, mas agora esta tinha que lutar com o brilho que só aqueles olhos tinham.
Ele não disse nada, abriu a porta e saiu.

Mariana Rosell

sábado, 20 de março de 2010

Mon eau

Et il ya,
la pluie à nouveau
je me souviens de ma douleur.

Les larmes du ciel
remplacer mon
qui s'est tarie.

Les flux d'eau;
propre;
je suis à sec.

La douleur a séché.

Ma tempête intérieure
c'est l'éclair et le tonnerre,
mon nuage est un fantôme.

La solitude est ma rivière,
mon bateau a coulé
et mes saints sont sourds.

Tout est pluie
extérieur; et intérieur,
tout est pierre.

La douleur se raidit.

La douler blesse,
assombrit,
tout est sombre.

Je crie sans un bruit,
je pleure,
pas de larmes.

Vous avez quitté et a pris
ma vie, mon sourire,
mon eau.

Je suis seul.

Mariana Rosell

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sandálias

E as sandálias que calçam
Os pés anteriormente descalços
São velhas ou novas,
Tanto faz o seu olhar
Se é o seu andar que
Modifica rotas e destinos,
Traceja caminhos embalados
Pela escuridão da estrada
De terra.
Poeira no ar, vento no rosto,
Cabelos ao vento, corpo ao sol
E o traçado é o mesmo,
Em busca d’água,
Oásis de emoção.
As lágrimas rolam espontaneamente
Nem se sabe porquê,
Apenas sente-se o sal
Temperando os olhos e o suor
Transbordando pelos poros.
E mesmo quando a noite vem
Não há parada nem descanso,
Não há tempo para vida
Só a jornada existe e dribla o sono
Com o canto da alma, interior e natural
Que não passa de lamentação com melodia
Mas quase soa como uma canção de ninar!


Mariana Rosell