domingo, 25 de março de 2012

Minha casa

Houve um tempo em que eu achei que morava em São Paulo, quando na verdade, morava apenas na Mooca e seus arredores. Achava São Paulo a melhor cidade do mundo.

Demorei a descobrir que não conhecia nada da maior cidade da América Latina. Quando o fiz, passei a achar que São Paulo era uma droga (nos dois sentidos da palavra). Ao mesmo tempo que escurece nossos pulmões; inebria e vicia. Não nos permite deixá-la.

Por algumas circunstâncias da vida, hoje cruzo São Paulo todos os dias. Hoje, de fato, sei o que é morar em São Paulo. É pegar trânsito todo dia, ônibus lotado com tudo fechado porque tá chovendo, não conseguir entrar no metrô mesmo sendo fim de semana porque tá todo mundo indo passear no shopping.

Diferentemente de Caetano, cruzar a Ipiranga e a Avenida São João não causa nada em meu coração. Vai ver é porque sempre que faço isso estou sentada no 702U-10 lendo o texto da próxima aula ou dormindo já que o trânsito tá parado mesmo.

Já pensei que jamais conseguiria viver fora daqui, já pensei que se não fosse morar fora daqui não conseguiria viver. Hoje eu acho que, por enquanto, aqui é mesmo o meu lugar.

Fazer o que se sou a típica cidadã paulistana: sempre correndo, com nível médio de stress e pulmão meio acinzentado pela poluição?

Mariana Rosell

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dessa vez

Mais uma vez você saiu
Não disse nada ao me deixar
Como sempre aconteceu
Eu fiquei a lhe esperar

O tempo parou para ver você passar
A boca calou para ouvir você falar
O sono chegou de tanto esperar

Foi um fantasma que chegou em mim
Deixando o dia escuro assim
Mas a noite acabou
E você de novo não chegou

O tempo se foi e o sorriso também
Você me abandonou
E dessa vez foi para sempre

Mariana Rosell

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Garapa

Pois tenha certeza

Não sabemos o que é

Fome

Não sabemos o que é

Querer e não

Ter

Necessitar e não

Suprir

Suplicar e ninguém

Ouvir

Pois tenha certeza

Não sabemos o que é

Fome

Temos tudo de que

Precisamos

Não nos falta

Nada

Nós já temos o

Bastante

Pois tenha certeza

Não sabemos o que é

Fome

Não conhecemos esse

Sofrimento

Não conhecemos essa

Dor

Não dormimos

De estômago vazio

Pois tenha certeza

Não sabemos o que é

Fome


Mariana Rosell

domingo, 3 de outubro de 2010

Casa de árvore

Esquina de rua

De terra e carvão

Caco de telha

Poeira no chão.

Muda de mel

E céu azulado

Flor de papel

No canto apagado.

Pergaminho em garrafa

Mensagem cifrada

Nadando em rio

Repleto de água.

Colibri a voar

Na mata fechada

Casa na árvore

Clube de nada.

Mariana Rosell

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A diferença da cor

Em tom amarelo

Ele veio de verde

Com olhos azuis

E boca vermelha

De camisa laranja

E luva branca

E sapato preto

Fez as cores colorir

Em tom azulado

Ela veio de preto

Com olhos vermelhos

E boca sem cor

De blusa branca

E nua de calça

Sem luva, sem nada

Fez das cores sua dor

Mariana Rosell

sábado, 28 de agosto de 2010

Fez-se pó

Na claridade ou escuridão
Só resta a lembrança
De uma vida que se foi
Vazia de atenção
E alegria e afeto

Tudo o que um dia foi inteiro
E quebrou partiu
Fez-se pó

E o pó é cinza do que veio
Lembrança do que passou
Tempero de quem se amou

Companheiro da solidão

Mariana Rosell

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Celebrare

À noite. O centro.
Não é dia de festa.
As ruas não estão tomadas
por multidões.
O centro é tomado por quem
o tem como casa.
Pessoas deitadas, espremidas
sob marquises estreitas,
misturadas aos ratos
que celebram a comida.


Mariana Rosell