domingo, 3 de outubro de 2010

Casa de árvore

Esquina de rua

De terra e carvão

Caco de telha

Poeira no chão.

Muda de mel

E céu azulado

Flor de papel

No canto apagado.

Pergaminho em garrafa

Mensagem cifrada

Nadando em rio

Repleto de água.

Colibri a voar

Na mata fechada

Casa na árvore

Clube de nada.

Mariana Rosell

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A diferença da cor

Em tom amarelo

Ele veio de verde

Com olhos azuis

E boca vermelha

De camisa laranja

E luva branca

E sapato preto

Fez as cores colorir

Em tom azulado

Ela veio de preto

Com olhos vermelhos

E boca sem cor

De blusa branca

E nua de calça

Sem luva, sem nada

Fez das cores sua dor

Mariana Rosell

sábado, 28 de agosto de 2010

Fez-se pó

Na claridade ou escuridão
Só resta a lembrança
De uma vida que se foi
Vazia de atenção
E alegria e afeto

Tudo o que um dia foi inteiro
E quebrou partiu
Fez-se pó

E o pó é cinza do que veio
Lembrança do que passou
Tempero de quem se amou

Companheiro da solidão

Mariana Rosell

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Celebrare

À noite. O centro.
Não é dia de festa.
As ruas não estão tomadas
por multidões.
O centro é tomado por quem
o tem como casa.
Pessoas deitadas, espremidas
sob marquises estreitas,
misturadas aos ratos
que celebram a comida.


Mariana Rosell

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quietude

A gente tem certeza
de que ama alguém
quando só de ouvir a voz dela
um sorriso surge
e o coração se conforta
em saber que
mais uma vez se pode ouvir
o som da
quietude.

Mariana Rosell

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Candango

Vivia na terra e buscava o mar;
Chegaram em casa, bateram à porta,
Convidaram a migrar para uma nova terra,
Construir uma cidade nova, diferente, única,
Moderna.
Migrei.
Levei família e o pouco que tinha,
Deixei a terra, o lar e o pouco que tinha.
Ao chegar, tinha vasto campo,
Um planalto bem no centro
Do país do futuro, em construção.
Tinha plano, tinha terra,
Não tinha mar, não tinha nada.
Fizemos prédios, fizemos igreja,
Fizemos lago, fizemos casas,
Fizemos tudo, não tivemos nada.
De tudo que construí nada era meu;
No plano bonito e perfeito da cidade do futuro
Não cabia gente pobre, gente humilde.
O homem desfilava de carro novo
Pelas ruas que eu asfaltei e eu
Não posso usar o hospital
Que eu mesmo pintei.
Expulso eu fui do lugar que montei.
Hoje eu moro abandonado, esquecido,
Ao redor da cidade do futuro.
Olho de longe, sou mal quisto.
Ao lado dos corpos que não resistiram
Sucumbem os que sobrevivem
À Margem da imagem futurista
Da cidade do futuro.
E paradoxal!


Mariana Rosell

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Girassol da janela

E quando a saudade aperta,
É o amor que se manifesta.
Reflexo claro e óbvio
Do que bate dentro do peito
É a lágrima que escorre,
Docemente,
Pela face que mais uma vez sorri.
Pois vem de novo uma luz,
Amarela,
É o girassol da janela,
De amor e
De carinho;
Presença constante
No meu dia-a-dia.

Mariana Rosell

terça-feira, 13 de julho de 2010

C'est l'amour

C'est l'amour qui sourire
Les nuages s'écartent
Le soleil brille comme fleur
La vie revient

Une mer inonde mon âme
Les lumière allumer ma douleur
Tout disparaît
Il ne reste que le sourire

La joie de vivre
A chaque instant intensément
Complet, entier
Pour l’amour pleinement


Mariana Rosell

sábado, 12 de junho de 2010

Copa na África

Dois mil e dez tem copa do mundo, a primeira na África. Muita festa, muita comemoração, mas de que adianta? Sim, a copa será na África, mas jamais será da África. A copa de dois mil e dez é de poucos. Dos poucos que podem pagar para desfrutá-la.
Orgulham-se mundo a fora de realizar a competição no continente mais pobre e sofrido do mundo, mas para isso escolhem seu país mais rico. Num continente de pretos, escolhem um país de brancos e olhos azuis. No continente da AIDS e da fome são construídos hotéis cinco estrelas e estádios supermodernos (que ao término da competição, provavelmente, estarão às moscas-bicheiras) e para as greves dos trabalhadores explorados (que nunca entrarão no hotel ou estádio que construíram como hóspedes ou expectadores) ninguém no mundo dá bola.
É claro, é mais fácil e necessário ignorar, afinal, quem quer macular a imagem bonita tão bem construída pelos organizadores da FIFA e interessados de que uma copa do mundo é tudo o que os africanos necessitam?
No país do Apartheid não se fala em Mandela. Será mesmo que a segregação acabou? Talvez sim, constitucionalmente. No entanto, a divisão ainda se dá, tão simples quanto a da lei. Para os brancos, riqueza, olhos azuis, conforto e copa do mundo; para os pretos, pobreza, olhos vermelhos, exploração e bola furada.
No meio da multidão que grita “Bafana, Bafana!” estão os que sofrem, durante um mês estarão mesclados com os poderosos; mas ao apito final a copa se acaba e os estrangeiros retornam de primeira classe. Aos africanos só resta a vuvuzela calada.


Mariana Rosell

terça-feira, 1 de junho de 2010

Praia

O toque da areia
A brisa do mar
O sol que bronzeia
O cheiro de terra no ar

Em volta as montanhas
Frontalmente o horizonte
Que toca o mar pelas entranhas
E faz da água nossa fonte

Bela praia
Leve brisa
Sal do mar
Sabor da vida

O céu azul
As árvores a farfalhar
O som das ondas
Quebrando no mar
Sensação de vida
Sensação de prazer
Sensação de melhora
Sensação de renascer

Nuvens fogem
Pelo mar afora
Com o mar na minha frente
Me sinto bem melhor

Areia fina
De cor branca
Grama verde
Forra a montanha

Azul do céu
Azul do mar
Verde da montanha
Amor no ar


Mariana Rosell

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tatuado em mim

Tatuei seu rosto
Por todo o meu corpo
Tatuei seu nome
Para jamais esquecer

Fiz de você
Marca permanente
Que brotou a semente
Do meu novo ser

Você ta marcado
Colado
Grifado
Em mim

Tatuei você
Tatuei você
Tatuei em mim
O rosto que mais amei

Você está marcado em mim
E vai ser sempre assim
Com seu nome
Seu rosto, você em mim

Permanente
Insistente
Consistente
Tatuado em mim

Mariana Rosell

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tecnologia

A tecnologia que destrói o belo
tira do sol o amarelo
submete todo o Sul
tira do mar o seu azul
pinta de cinza a paisagem
que irriga e faz drenagem
faz voar e faz matar
faz sorrir e faz chorar
traz a fome, traz a sede
tira da mata o seu verde
vem a noite, vem a lua
tira a grama e põe a rua
polui o rio e os ares
derrete o gelo
aumenta os mares
destrói lares
trouxe a modernização
sem pensar na extinção
na destruição
na poluição
na submissão
na obrigação
na contradição.


Mariana Rosell

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Bahia

Terra de amores, flores e cores
Terra de bares, mares e lares
Terra de vigários, operários e itinerários

Terra de Gil e Caetano
Terra de Gal e Bethânia
Terra de Dorival do samba

Terra de histórias
Terra de glórias
Terra de oratórias

Terra de sóis
Terra de anzóis
Terra de lençóis

Com ou sem
Todos os seus santos
Ainda mantém
Todos seus encantos

Terra verde e amarela
Terra branca e anil
Talvez seja a mais bela
Terra do nosso Brasil


Mariana Rosell

sábado, 1 de maio de 2010

Amor, sol, lençol e carinho

Hoje cheguei a sangrar por dentro
Porque me fez lembrar o ungüento
Daquela noite bordado de sol
Que observei emaranhada no lençol

Envolvida nos laços dos seus braços
Fiquei, permaneci, enterneci
Preenchi com amor todos os espaços
E com lençol e sol nos cobri

Desfeito nosso olímpico ninho
Eu parti deixando você sozinho
Embaraçado, embolado no lençol
Parti sozinha, deixei o sol

Deixei só, você no lençol
Deixei você somente com o sol
Vim só, senti saudade
De toda sua claridade

Vamos reencontrar o lençol
Trago o amor e você o sol
Em nosso ninho
Só restará amor, sol e carinho

Mariana Rosell

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tercetos de adeus

É, agora vai ser assim
Eu com você
E você sem mim

A nossa flor se perdeu
Dei ao primeiro que
Passou quando a lua acendeu

Nossa taça se quebrou
Junto com o amor
Que há tempos se acabou

Tudo o que era seu eu joguei
Pela janela do quarto
Que um dia eu usei

Você saiu pela porta
E não estranhei
A nossa história já era morta

Mesmo com o pequeno ruído
Que você fez ao ir embora
Eu sabia que você tinha saído

Melhor assim
Eu com você
E você sem mim

Do que era seu
Guardei apenas o bilhete
Que na chuva você me deu

Mesmo molhado, borrado
Sujo e rasgado
Ele sempre será guardado


Ah!esse bilhete
Representa todo o nada
Que um dia foi tudo

Tudo que agora
Está apenas no bilhete
E na sujeira embaixo do tapete

Nossa foto é com o tempo
Ele irá apagar
A lembrança do nosso momento

Joguei quase tudo fora
Arranquei até as cortinas
Que você não levou embora

Na parede aquele quadro
Está quase destruído
O vidro é todo estilhaçado

Por causa daquela flor
Toda de pedra
Que você jogou na parede

Querendo acertar o nosso amor
Você errou o alvo cego
E acertou o quadro verde

O que você pensa agora
Tanto faz
Sua opinião não mais me importa

Fizemos questão de separar
O que parecia estar unido
Mas na verdade só faltava quebrar

Os cacos da nossa união
Escondi no cofre
Nem tentei colar em vão

Nossa almofada colorida
Não está mais
Nem perfumada nem preenchida

O violão você deixou
E aqui vai ficar
Para eu lembrar do que passou

Devolve-me a flauta
Que você roubou
Ela é minha, toda minha

Na mesa do café
Ficou o guardanapo
Embrulhando a minha colher

Juro que tentei correr
Pra tentar me despedir
Mas você fez questão de se esconder

Então pegue essas palavras
Pois elas serão as últimas
Por elas vou me despedir

Tudo o que é seu está no chão
O meu novo telefone
Anotei num papel de pão

Se um dia quiser ligar
Não tenha dúvida
Ainda tenho algo a falar

Mas se acaso estiver ocupada
Não se iluda
Estarei com alguém que me faça sentir muito mais amada

Mariana Rosell

quarta-feira, 31 de março de 2010

A dor (No fundo dos olhos dele)

Ele veio como quem não sabia o que dizer, mas na verdade ele não sabia como dizer. Tocou em meus braços, segurou minha mão e acariciou meu rosto com todo amor que sentia por mim. Senti que ele queria me falar algo, mas não achava as palavras. No fundo dos olhos mais lindos que eu já vi, havia uma dor, muita dor.
Não suportando me olhar profundamente, ele se virou de lado e parou durante instantes. Ao fim de sua pausa, que para mim pareceu eterna, ele disse palavras desconexas das quais não pude extrair nenhum significado. A única coisa que conseguia observar era a dor no fundo dos olhos dele.
Eu queria ajudá-lo, penetrar na mente dele para poupá-lo do sofrimento de ter que pronunciar aquelas palavras que insistiam em não sair. Então me esforcei para decifrar os códigos da angústia que habitava e intensificava a dor no fundo dos olhos dele.
Percebia que algo o estava incomodando muito. De repente, entendi; no gesto simples e no lamento da expressão, pude compreender que aquele era o adeus. Então só conseguia ver a dor no fundo dos olhos dele.
Ao perceber que eu compreendera seus sinais, pareceu respirar aliviado por se ver livre do fardo de ter que me dizer adeus. Ele então me olhou da maneira mais profunda; a dor ainda estava no fundo dos olhos dele, mas agora esta tinha que lutar com o brilho que só aqueles olhos tinham.
Ele não disse nada, abriu a porta e saiu.

Mariana Rosell

sábado, 20 de março de 2010

Mon eau

Et il ya,
la pluie à nouveau
je me souviens de ma douleur.

Les larmes du ciel
remplacer mon
qui s'est tarie.

Les flux d'eau;
propre;
je suis à sec.

La douleur a séché.

Ma tempête intérieure
c'est l'éclair et le tonnerre,
mon nuage est un fantôme.

La solitude est ma rivière,
mon bateau a coulé
et mes saints sont sourds.

Tout est pluie
extérieur; et intérieur,
tout est pierre.

La douleur se raidit.

La douler blesse,
assombrit,
tout est sombre.

Je crie sans un bruit,
je pleure,
pas de larmes.

Vous avez quitté et a pris
ma vie, mon sourire,
mon eau.

Je suis seul.

Mariana Rosell

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sandálias

E as sandálias que calçam
Os pés anteriormente descalços
São velhas ou novas,
Tanto faz o seu olhar
Se é o seu andar que
Modifica rotas e destinos,
Traceja caminhos embalados
Pela escuridão da estrada
De terra.
Poeira no ar, vento no rosto,
Cabelos ao vento, corpo ao sol
E o traçado é o mesmo,
Em busca d’água,
Oásis de emoção.
As lágrimas rolam espontaneamente
Nem se sabe porquê,
Apenas sente-se o sal
Temperando os olhos e o suor
Transbordando pelos poros.
E mesmo quando a noite vem
Não há parada nem descanso,
Não há tempo para vida
Só a jornada existe e dribla o sono
Com o canto da alma, interior e natural
Que não passa de lamentação com melodia
Mas quase soa como uma canção de ninar!


Mariana Rosell

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mãe Marcia

Para Marcia Villaça

Bailarina, mulher
e agora mamãe.
Talvez o melhor
dos adjetivos
destinados a nós,
mulheres.
Não anula os demais,
apenas intensifica
tudo o que já há de bom!
Ser mãe é mais do que
padecer no paraíso;
é, incondicionalmente,
entregar-se na Terra.
Ser mãe é desejar
mais alguém
do que a si mesma;
é dedicar-se a alguém
dedicando-se a si mesma;
é ser no outro, você
integralmente!


Mariana Rosell

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mundo paralelo

Entre o verde da folhagem que farfalha com o vento e ao som do canto doce dos pequenos pássaros, chego num mundo que abriga um paralelo. Não se pode explicar, é um mundo indescritível, fora do próprio mundo.
Prédios se perdem numa mata disforme e colorida e abrigam conhecimento. Aqui me sinto em casa; uma casa única e quase inatingível.
Não há tempo certo para beleza, todo o ano é tudo belo. No verão é sol acalorado, no outono folhas fazem-se tapete, no inverno é vento fresco e na primavera, carnaval de flores (cores).
É o som da conversa passarinha a trilha sonora desse mundo que me faz tão bem. Sons diversos, pouco identificáveis; com a única certeza de seu tom calmante e confortante.
E é no meio de pássaros, folhas, flores e cores que eu me perco durante as tardes que dedico a minha História.


Mariana Rosell

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mãe e filho

Aquela que faz amar
Aquele que faz retribuir
Mãe e filho a viver

Aquela que faz sonhar
Aquele que faz acordar
Mãe e filho a amar

Aquela que faz remover
Aquele que faz enlouquecer
Mãe e filho a se envolver

Aquela que faz sorrir
Aquele que faz dormir
Mãe e filho a existir

Aquela que faz cantarolar
Aquela que faz proibir
Mãe e filho a desenvolver

Aquela que faz mudar
Aquele que faz inspirar
Mãe e filho a encantar

Aquela que faz reviver
Aquele que faz desenvolver
Mãe e filho a crescer

Aquela que faz conduzir
Aquele que faz sair
Mãe e filho a dividir


Mariana Rosell

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mãe

Aquela que faz ninar
Aquela que faz beber
Aquela que faz dormir

Aquela que faz sonhar
Aquela que faz comer
Aquela que faz sorrir

Aquela que só faz banhar
Aquela que só faz sofrer
Aquela que só faz sorrir

Aquela que só faz criar
Aquela que só faz nascer
Aquela que não faz dormir

Aquela que faz brincar
Aquela que faz crescer
Aquela que faz partir

Aquela que só faz ligar
Aquela que só faz mexer
Aquela que só faz parir

Aquela que faz estudar
Aquela que faz correr
Aquela que faz rir

Aquela que só faz cantarolar
Aquela que só faz estremecer
Aquela que só faz cobrir

Aquela que faz andar
Aquela que faz mexer
Aquela que faz colidir

Aquela que só faz preocupar
Aquela que só faz proteger
Aquela que só faz suprir


Mariana Rosell

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Filho

Aquele que faz chorar
Aquele que faz correr
Aquele que não deixa dormir

Aquele que faz acordar
Aquele que faz adormecer
Aquele que faz sorrir

Aquele que só faz discordar
Aquele que só faz enraivecer
Aquele que só faz existir

Aquele que só faz teimar
Aquele que só faz dizer
Aquece que só faz sair

Aquele que faz mimar
Aquele que faz resolver
Aquele que faz desistir

Aquele que só faz desorientar
Aquele que só faz envolver
Aquele que só faz insistir

Aquele que faz amar
Aquele que faz entristecer
Aquele que faz explodir

Aquele que só faz badalar
Aquele que só faz contorcer
Aquele que só faz discernir

Aquele que faz modificar
Aquele que faz remexer
Aquele que faz conduzir

Aquele que só faz renovar
Aquele que só faz remover
Aquele que só faz permitir


Mariana Rosell

sábado, 2 de janeiro de 2010

E lá vem 2010...

Pensei muito e a dificuldade em escolher o primeiro texto de 2010 foi enorme. Então, achei que escrever um texto especialmente para a ocasião seria o mais adequado, mesmo que, talvez, ainda seja insuficiente.
O fim do ano é sempre da mesma forma: pessoas felizes, pessoas tristes, todos se abraçando, sorrindo ou chorando, muitos presentes, muita comida, muito desperdício e assim por diante. Não que eu não goste, pelo contrário, eu adoro essas datas, adoro ver a cidade toda se enfeitando, luzes, brilhos, pelúcias e papais-noéis vindos diretamente do Polo Norte para um país tropical sob efeitos do aquecimento global. Apesar de tudo, do clima nostálgico, do balancete anual, da saudade de quem foi, da esperança de quem vem; apesar de tudo que se esbanja, eu gosto do Natal e do Ano Novo.
Na véspera de Natal é aquela festa e a Xuxa na tevê, contando todo ano a mesma historinha sem graça, alterando apenas as roupas escandalosas e a Sasha, que está cada vez maior. Às vezes também muda os convidados que vão lá dublar algumas músicas natalinas / infantis, mas a Ivete tá lá todo ano; nada mais justo, já que Natal é época de reforçar os laços, de amizade inclusive.
Dia 31 tem São Silvestre e todo o ano os quenianos mostram o quanto o investimento brasileiro em esportes que não sejam o futebol ou alguns com mais destaque é insatisfatório. Tem show, tem festa, tem champagne, tem brinde, tem choro e tem uma esperança de que no ano que vai nascer tudo vai ser diferente. E é isso que me incomoda tanto. Não entendo muito bem porque as pessoas acham que só porque vai virar a meia-noite tudo vai mudar, tudo vai ser mais fácil. Nada cósmico acontece, é apenas mais uma madrugada que se inicia. Só porque resolvemos acreditar que um ano termina e o outro começa, não significa que as pessoas vão mudar e o mundo vai melhorar.
Não critico a esperança, a desejo, a necessito; mas ela não basta! Ação tem que estar junto, de braços dados, assim como fazemos durante a queima de fogos na Avenida Paulista ou na praia de Copacabana. Porque se não for assim, não vai adiantar nada e no fim desse ano vai ser tudo da mesma forma: Xuxa na tevê, quenianos dando show em terra tupiniquim e gente morrendo aos montes por causa da destruição diária da Natureza pelo Homem e por causa do descaso com a vida.
Que venha 2010!

Mariana Rosell