sábado, 12 de junho de 2010

Copa na África

Dois mil e dez tem copa do mundo, a primeira na África. Muita festa, muita comemoração, mas de que adianta? Sim, a copa será na África, mas jamais será da África. A copa de dois mil e dez é de poucos. Dos poucos que podem pagar para desfrutá-la.
Orgulham-se mundo a fora de realizar a competição no continente mais pobre e sofrido do mundo, mas para isso escolhem seu país mais rico. Num continente de pretos, escolhem um país de brancos e olhos azuis. No continente da AIDS e da fome são construídos hotéis cinco estrelas e estádios supermodernos (que ao término da competição, provavelmente, estarão às moscas-bicheiras) e para as greves dos trabalhadores explorados (que nunca entrarão no hotel ou estádio que construíram como hóspedes ou expectadores) ninguém no mundo dá bola.
É claro, é mais fácil e necessário ignorar, afinal, quem quer macular a imagem bonita tão bem construída pelos organizadores da FIFA e interessados de que uma copa do mundo é tudo o que os africanos necessitam?
No país do Apartheid não se fala em Mandela. Será mesmo que a segregação acabou? Talvez sim, constitucionalmente. No entanto, a divisão ainda se dá, tão simples quanto a da lei. Para os brancos, riqueza, olhos azuis, conforto e copa do mundo; para os pretos, pobreza, olhos vermelhos, exploração e bola furada.
No meio da multidão que grita “Bafana, Bafana!” estão os que sofrem, durante um mês estarão mesclados com os poderosos; mas ao apito final a copa se acaba e os estrangeiros retornam de primeira classe. Aos africanos só resta a vuvuzela calada.


Mariana Rosell

Um comentário:

Pedro Leco, disse...

É nóis nadando contra a maré.

SEM PRAZER, mas com a consciência limpa.

(que vergonha, só venho aqui quando atualizo o meu blog... desculpaaa)