quarta-feira, 28 de julho de 2010

Candango

Vivia na terra e buscava o mar;
Chegaram em casa, bateram à porta,
Convidaram a migrar para uma nova terra,
Construir uma cidade nova, diferente, única,
Moderna.
Migrei.
Levei família e o pouco que tinha,
Deixei a terra, o lar e o pouco que tinha.
Ao chegar, tinha vasto campo,
Um planalto bem no centro
Do país do futuro, em construção.
Tinha plano, tinha terra,
Não tinha mar, não tinha nada.
Fizemos prédios, fizemos igreja,
Fizemos lago, fizemos casas,
Fizemos tudo, não tivemos nada.
De tudo que construí nada era meu;
No plano bonito e perfeito da cidade do futuro
Não cabia gente pobre, gente humilde.
O homem desfilava de carro novo
Pelas ruas que eu asfaltei e eu
Não posso usar o hospital
Que eu mesmo pintei.
Expulso eu fui do lugar que montei.
Hoje eu moro abandonado, esquecido,
Ao redor da cidade do futuro.
Olho de longe, sou mal quisto.
Ao lado dos corpos que não resistiram
Sucumbem os que sobrevivem
À Margem da imagem futurista
Da cidade do futuro.
E paradoxal!


Mariana Rosell

Um comentário:

Pedro Leco, disse...

Quando a palavra paradoxal pode ser substituida por injusta.