quarta-feira, 31 de março de 2010

A dor (No fundo dos olhos dele)

Ele veio como quem não sabia o que dizer, mas na verdade ele não sabia como dizer. Tocou em meus braços, segurou minha mão e acariciou meu rosto com todo amor que sentia por mim. Senti que ele queria me falar algo, mas não achava as palavras. No fundo dos olhos mais lindos que eu já vi, havia uma dor, muita dor.
Não suportando me olhar profundamente, ele se virou de lado e parou durante instantes. Ao fim de sua pausa, que para mim pareceu eterna, ele disse palavras desconexas das quais não pude extrair nenhum significado. A única coisa que conseguia observar era a dor no fundo dos olhos dele.
Eu queria ajudá-lo, penetrar na mente dele para poupá-lo do sofrimento de ter que pronunciar aquelas palavras que insistiam em não sair. Então me esforcei para decifrar os códigos da angústia que habitava e intensificava a dor no fundo dos olhos dele.
Percebia que algo o estava incomodando muito. De repente, entendi; no gesto simples e no lamento da expressão, pude compreender que aquele era o adeus. Então só conseguia ver a dor no fundo dos olhos dele.
Ao perceber que eu compreendera seus sinais, pareceu respirar aliviado por se ver livre do fardo de ter que me dizer adeus. Ele então me olhou da maneira mais profunda; a dor ainda estava no fundo dos olhos dele, mas agora esta tinha que lutar com o brilho que só aqueles olhos tinham.
Ele não disse nada, abriu a porta e saiu.

Mariana Rosell

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